quarta-feira, 4 de abril de 2012

Reflexões

Diário de Notícias Quinta, 15 de Março de 2012

SPM - David contra Golias

É com desgosto que vejo em que se tornou o sindicato da Adília, da Amélia, da Adriana, do João Luís, do Rui e de tantos outros de boa memória

Hélder Melim
Esta velha história bíblica repete-se incessantemente ao longo dos tempos com resultados incertos e variáveis. Por vezes vence David e por outras é Golias o vencedor.
No tempo presente, nas próximas futuras eleições para o Sindicato dos Professores da Madeira (SPM), terá mais uma edição. Neste caso Golias será a atual direção que, com retoques de cosmética, comanda,nos últimos anos, os destinos do SPM; do outro lado, David, será quem quer que seja que se lhes oponha.
Golias (direção vigente) tem ao seu serviço todo o aparelho do sindicato, tem todo o tempo para fazer a sua campanha, tempo esse pago pelo contribuinte. Tem acesso aos contactos dos sócios, às reuniões com delegados sindicais. Os atuais estatutos são iníquos e desajustados à realidade democrática, feitos de modo a que as direções se perpetuem. Agora, tal como já sucedeu nas últimas eleições, são elementos da direção que têm maioria nos órgãos deliberativos do sindicato (Assembleia Geral, Comissão Eleitoral e Conselho Fiscal) e que simultaneamente integram a "nouvelle" candidatura da atual direção, que recebem, validam e aprovam as candidaturas das listas suas opositoras. Também são eles que permitem e condicionam o acesso das outras listas aos sócios. Em democracia, situações como esta não podem existir, porque, pura e simplesmente a lei não permite que ninguém seja juiz e parte no mesmo processo. Convém não esquecer que existe uma Constituição da República e leis gerais da nação às quais todos os estatutos têm de se subordinar.
O SPM encontra-se refém de interesses instalados ao longo dos tempos, de pessoas há muitos anos profissionalizadas como sindicalistas, que desaprenderam de ser professores, pessoas que ninguém sabe ao certo o que fizeram pela classe, que não conseguem encontrar um rumo para a sua vida fora do SPM, que nem a idade ou situação de aposentadoria leva a abandonar funções executivas no sindicato, que perderam de vez a oportunidade de saírem pela "porta grande", como é prática louvável e habitual no sindicalismo, de que deram provas Guida Vieira e mais recentemente Carvalho da Silva.
No atual tempo de incertezas e de agressões aos professores, o SPM não poderá ser um local onde se defende interesses pessoais em vez dos coletivos, onde se fazem e desfazem direçõespor ousarem contrariar as "vacas sagradas", onde se cilindram e ostracizam pessoas com outras propostas, onde, por vezes,se utilizam as fintas e os truques própriosdo exercício da mais rasca política partidária.
Hoje não se reconhece ao SPM um pensamento sobre educação. A defesa dos interesses dos professores está pelas "vias da amargura", devido a uma ação sindical frouxa, bem comportada, divorciada da classe, contaminada e capturada pelo poder. Temos o pior Estatuto da Carreira Docente do país, temos carreiras e tempo de serviço congelados,os nossos devidos retroativos eternamente adiados, temos o Estatuto do Aluno mais permissivo, temos uma avaliação de docentes de faz-de-conta, que não conta para concursos extra regionais e não é reconhecida pela Caixa Geral de Aposentações e que beneficiou, sobretudo, os professores deputados e sindicalistas. Os novos concursos de recrutamento de docentes não respeitam a continuidade territorial e colocam os professores e educadores da Madeira e Açores em desvantagem muito grande. Foi-se ao ponto de politizar a inauguração da sede, sabe-se lá em troca de quê.
Em três anos perdeu o SPM centenas de sócios. O mínimo que se exigiria a uma direção seria que estes professores fossem contactados para apurar das razões subjacentes às suas renúncias e agir em conformidade.
Previsivelmente, Golias, lavando as mãos como Pilatos, apresentar-se-á às próximas eleições como paladino da mudança, travestido de renovador, com promessas de rutura, com promessas de "leite e mel". Os dirigentes de saída serão feitos bodes expiatórios, carregarão consigo todas as culpas, ações e omissões do atual SPM. Ao fim e ao cabo, é preciso que alguma coisa mude para que tudo fique na mesma, ou, como diria Marcelo Caetano, para que haja uma "renovação na continuidade".
Golias, como de costume, ficará na penumbra, porque sabe esgotado o seu prazo de validade, e oportunamente tirará da cartola, para coordenador, provavelmente alguém simpático mas sem créditos firmados em matérias de sindicalismo ou de educação, irmão ou irmã, mulher ou marido, primo ou prima de alguém, garante de que só se fará o que as vetustas eminências pardas quiserem.
Golias atemorizará os sócios, David será acusado de quererpartidarizar o sindicato, de acabar com as atividades dos professores aposentados, com o SPM, em suma, as mesmas cabalas doutros campeonatos.
É com desgosto que vejo em que se tornou o sindicato da Adília, da Amélia, da Adriana, do João Luís, do Rui e de tantos outros de boa memória a quem o SPM muito deve, que serviram e não se serviram, e que, dado o seu contributo, naturalmente e com a maior dignidade, cederam o lugar a outros que entretanto não quiseram sair e se instalaram "adæternum". Perdoem-me os muitos sindicalistas do SPM honestos e esforçados, pois este texto não é convosco.
Noutras situações coibi-me de me pronunciar publicamente sobre a situação interna do SPM, no sentido de preservar a sua imagem pública. Hoje estou profundamente convicto queeste é o melhor serviço que posso prestar.
Apesar de tudo, e porque a esperança é a última a morrer, confio que, ainda hoje, os Davides vencem de vez em quando. Os sócios decidirão.
P.S.
Não sou candidato de nenhuma lista.

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